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EU VIVI UMA UTOPIA
Workshop/ imersão artística - Tours, França, 2023.

Em maio de 2023 vivi uma utopia. O programa YES (Young European Sculpture), programa promovido pela parceria de quatro faculdades na Europa, promoveu uma semana intensa de trocas e imersão artística/ social. O projeto agregava em si diversos pontos que dialogam diretamente com esta investigação, sobretudo no tema da materialidade e da experimentação sensorial. Organizado em formato de workshop, YES aconteceu na cidade de Tours em um ambiente natural e colaborativo ao lado do rio Loire, um rio da França onde a natureza se manifesta em estado mais natural e livre. Essa liberdade permeou nossas experimentações e trocas que se ampliaram a partir da proposta de aproximação com os quatro elementos: água, fogo, terra e ar.

As turmas dos quatro países participantes (Portugal, França, Letônia e Itália) se mesclaram em grupos menores e a interação cultural, linguística e interpessoal tornou-se parte estrutural do programa que fluiu entre a investigação do território e seu contexto, das técnicas de escultura (materiais ou não), Landart, flâneur, multissensorialidade e a liberdade de criação e especulação. A integração entre os participantes tornou-se de importância central, fossem eles alunos ou professores e colaboradores, todo trabalho foi profundamente influenciado pela colaboração entre os indivíduos, sem imposição hierárquica ou excesso de regras e normas que poderiam influenciar negativamente a produção artística, fosse ela individual ou coletiva.
Por consequência disso, a experiência estava profundamente ligada ao conceito da estética relacional defendida por Nicolas Bourriaud, a qual refere-se a uma abordagem artística que enfatiza as relações e interações entre os espectadores, obras de arte e o ambiente circundante. Essa estética valoriza a criação de situações sociais e interações humanas através das obras, promovendo a participação ativa do público e a construção de significado coletivo. O foco não está apenas na obra de arte em si, mas na forma como ela cria conexões e diálogos entre as pessoas, gerando experiências compartilhadas e colaborativas. E essa semana demonstrou a efetividade desse conceito pois resultou em uma busca por compreender como a metodologia artística é capaz de promover inovação social, contribuir criticamente para a construção ou remodelagem de espaços e, por consequência, transformar a vida das pessoas e da coletividade.

Pela minha própria experiência e de colegas com os quais interagi mais pessoalmente o resultando foi o surgimento de uma mini-utopia, algo como um breve exemplo de como, mesmo em uma era de volatilidades, tecnologia e instabilidade ainda é possível criar e vivenciar um mundo ideal. E através desse ideal propus no workshop da terra uma fusão das identidades que participaram dessa experiência. Coletei a digital de cada colega, professor e colaborador com uso de barro. Convidei cada pessoa a pressionar sua digital contra um pequeno pedaço de barro onde ela estava pisando no momento em que a encontrava, e assim a impressão capturava o lugar e o indivíduo, simbolicamente. O círculo, um símbolo de continuidade e ciclo, foi utilizado para aglutinar todas essas identidades, simbolizando a conexão que estabelecemos uns com os outros. Para finalizar posicionei a obra Nossas identidades às margens do rio, e o deixei dissolver o barro e transforma-lo em uma memória dessa semana utópica.

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